“Quando olhei a terra ardendo, qual fogueira de São João, eu perguntei a Deus do Céu porque tamanha judiação” - Luiz Gonzaga.
Ex. Senador Roberto Cavalcanti.
O “hino” extra-oficial da nação nordestina embala os esturricados sertões da região – incluindo nesta rota a Paraíba, onde mais de dois milhões estão com sede.
Todo
o semi-árido se transformou em um grande fogaréu, que varre os pastos,
seca as plantações, espalha tristezas e provoca prejuízos incalculáveis.
Mas,
a despeito do sofrimento, o nordestino não é um povo que aceita a
desolação. Ou esquece suas tradições. Durante todo o ano, uma data se
destaca no calendário do sertanejo. E ela está próxima, com suas
crenças, seus folguedos, suas festas.
A
verdade é que nem a estiagem seca a vontade do sertanejo de comemorar o
São João. Mas há espaço para festas? Ou melhor: para os custos que elas
embutem?
Mesmo antes do El Nino provocar
seus estragos, circularam rumores – nesta Paraíba onde tudo é
politizado - de que o Estado não estaria disposto a azeitar a fogueira
junina nos municípios.
Não acredito. A
seca é real e arrefece os ânimos. E em tempos de estiagem, a primeira
coisa que seca é a torneira dos recursos. Forçar sua abertura para
contratar shows (muitos deles milionários) e preparar todo um arraiá
pode significar a incapacidade de prestar socorro aos que mais sofrem
com a estiagem.
Não sem razão, diante de
tanta penúria, muitos gestores se apressaram a cancelar os festejos,
despertando ora aplausos ora críticas.
Congratulações de quem entende que o momento é de centrar foco nas ações de emergência contra a seca.
E
o rancor de quem acha que cancelar a festa significa impor mais
sofrimento a um povo já tão maltratado pelas intempéries. Além de abrir
mão de receita gerada junto ao comércio e ao turismo.
Entre
um extremo e outro sobra a necessidade de temperança para entender que,
se a festa não deve ser faraônica, que seja a possível.
Ate porque não se pode decretar, com uma canetada, o fim de uma tradição.
E,
também, porque o São João não se resume ao lúdico – é, sobretudo, uma
manifestação religiosa do crente povo nordestino, que mesmo secularmente
vitimado pelas condições climáticas, não abre mão da fé.
Fé
pelo retorno das chuvas e por interferências públicas capazes de
sacramentar, de uma vez por todas, o fim a tantos séculos de judiação.
do portal correio
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